OS DISCÍPULOS DO AMANHÃ
Reinaldo Beserra dos Reis
A grande maioria das pessoas que freqüenta a Igreja aspira, pretende
e se identifica como discípulos de Jesus Cristo. E é muito bom que assim o
seja. É muito bom que cada pessoa na Igreja tenha no coração este desejo
de querer aprender da vida de Jesus, de ser continuamente instruído em Sua
doutrina, de “frequentar” a escola de tão Divino Mestre. Mas Jesus não
quer apenas “ discípulos”. Jesus não nos quer “eternamente” alunos, como
simples aprendizes de um ofício que nunca exercitamos, nunca assumimos
e para o qual estamos sempre sendo treinados...
Não. A Igreja está por demais povoada de “discípulos do amanhã”,
que sempre que convidados a assumir uma tarefa mais séria, uma atividade
mais comprometedora com a Boa Nova, pondo em risco e oferecendo ao
desgaste a própria vida pela causa do Reino, recusam-se, alegando não
estar ainda “preparados” para tal serviço, não ter ainda “condições” de se
doar como o trabalho em questão exige. Preferem continuar “discípulos”,
apenas. Preferem continuar tendo “ótimas idéias” e “planos
impressionantes”, mas... para os outros executarem! E passam a vida “se
preparando”, deliciando-se com os ensinamentos recebidos de outrem, às
vezes criticando quem trabalha, contestando isso e aquilo, para, quem sabe,
num amanhã que nunca chegará, oferecer ao Senhor os “restos” de suas
vidas egoístas e medrosas...
João Paulo II, em sua Exortação Apostólica Catechesi Tradendae
nos chamava a atenção para o fato de que uma das missões do Espírito
Santo é exatamente a de transformar aquele que é discípulo em testemunha
de Jesus Cristo (Catechesi Tradendae, 72). Ou seja, depois de testemunhar
Jesus em nós e nos tornar discípulos, o Espírito quer que nós mesmos
testemunhemos a Jesus, trabalhando por manifestá-lo a outros que não O
conhecem (Jo 15,26-27). E não precisamos nos sentir “despreparados” ou
incapacitados. A capacitação para testemunhar a Jesus vem do Espírito, e
não de nosso “muito tempo” na escola da fé. Pois esta foi a promessa feita
por Jesus a um grupo especial de discípulos: “... Mas descerá sobre vós o
Espírito Santo e vos dará força e sereis minhas testemunhas (...) até os
confins do mundo” (At 1,8). De maneira que todo aquele que, na Igreja,
não dá testemunho de sua fé em Cristo, precisa se perguntar discípulo de
quem realmente é... e se, na verdade, está se deixando habitar e conduzir
por Seu Espírito. Porque a conseqüência de quem busca viver na plenitude
do Espírito é dar testemunho de Jesus...
Na Audiência Geral de 24 de maio de 1989, em Roma, o hoje beato
João Paulo II nos ensinava: “A ação do Espírito Santo é a de dar
testemunho! E uma ação interior, tri-imanente, nos corações dos
discípulos, que então se tornam capazes de dar testemunho de Cristo
eternamente... Ao testemunhar Cristo, o Paráclito é um assíduo Advogado e
Defensor da Obra de Salvação e de todos aqueles que estão engajados nesta
Obra”. Seu predecessor – Paulo VI – na Exortação Apostólica Evangelii
Nuntiandi (n.75), já enfatizava: “O Espírito Santo é aquele que, hoje ainda,
como nos inícios da Igreja, age em cada um dos evangelizadores que se
deixa possuir e conduzir por ele, e põe na sua boca as palavras que ele
sozinho não poderia encontrar, ao mesmo tempo que predispõe a alma
daqueles que escutam a fim de a tornar aberta e acolhedora para a Boa
Nova e para o reino anunciado. As técnicas da evangelização são boas,
obviamente; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a
ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do
evangelizador nada faz sem ele.” Não poucas pessoas são motivadas,
atualmente, a ansiar por uma renovada efusão do Espírito Santo em suas
vidas. Querem “o poder do alto”, prometido (cf. At 1,5-8). Mas nem
sempre se mostram dispostas a estender a visão a respeito dessa força
recebida para além do exterior aspecto glorioso que a pode acompanhar, e
usá-la para aquele propósito primeiro indicado por Jesus Cristo de sermos,
por causa dela, suas destemidas testemunhas (cf. At 1,8), capazes de por
Ele correr riscos, fazer sacrifícios e suportar afrontas... Falando aos jovens
na Jornada Mundial de Sidney, na Austrália (20/07/2008), momentos antes
da cerimônia do Crisma, o papa Bento XVI se perguntava (e respondia!):
“Que significa receber o “selo” do Espírito Santo?... Significa ficar
indelevelmente marcados, significa ser novas criaturas. Para aqueles que
receberam este dom, nada mais pode ser como antes. Ser “batizados” no
Espírito significa ser incendiados pelo amor de Deus, “beber” do Espírito
(cf. 1 Cor 12,13) significa ser refrescado pela beleza do Plano de Deus
sobre nós e o mundo, e tornar-se por sua vez uma fonte de frescor para os
outros. Ser “selados com o Espírito” significa além disso não ter medo de
defender Cristo, deixando que a verdade do Evangelho permeie a nossa
maneira de ver, pensar e agir, enquanto trabalhamos para o triunfo da
civilização do amor...”
Jesus era ainda um simples menino quando seus pais O encontraram
– em meio aos doutores da lei – trabalhando pela causa do Reino, junto ao
templo de Jerusalém. Perguntado porque fazia aquilo, naquelas
circunstâncias, respondeu: “Acaso não sabíeis que devo me ocupar das
coisas de meu Pai?” (Lc 2,41-52). Se é que temos o mesmo Pai a que se
refere Jesus,a hora de ocuparmo-nos de Sua obra é hoje, é agora! Aliás,
colaborar efetivamente com as obras que buscam promover a glória de
Deus e testemunhar a Jesus é a condição para que Ele também um dia dê
testemunho a nosso favor diante do Pai que está nos céus (Mt 10,32-33).
Amém!
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